Criticado por propor o endurecimento das penas de traficantes, o
deputado Osmar Terra (PMDB-RS) ataca os ministérios da Saúde e da
Justiça por, segundo ele, perderem tempo "filosofando" enquanto "meninos
morrem". Os ministérios não comentaram.
Autor do projeto que aumenta a pena mínima para o crime de cinco para
oito anos, ele defende a punição rigorosa de pequenos traficantes, que,
na sua visão, são tratados como "coitadinhos".
São Paulo capacitará entidade para tratamento de menor viciado
O projeto, que pode ser votado nesta semana, prevê ainda o acolhimento
de usuários em comunidades terapêuticas, cujo trabalho é criticado,
entre outras razões, por muitas terem cunho religioso.
Folha - Esse é um projeto de saúde ou foca em repressão?
Osmar Terra - De saúde. O que eles dizem que é repressão
-aumentar pena para o tráfico- eu vejo como uma ação de saúde pública.
Inventaram a figura do pequeno traficante. Para se manter e sustentar
seu vício, ele precisa viciar de 20 a 30 meninos por ano. A quarta parte
dos meninos dependentes morre nos primeiros cinco anos.
Estão tentando dizer que o pequeno traficante é um coitadinho. Um cara
que mata a quarta parte dos seus clientes em cinco anos não é
coitadinho.
Qual é a proposta do governo para a pena do traficante?
O governo concorda com o aumento da pena [mínima] para o grande traficante, mas eles já estão presos.
Vamos avaliar se existe margem para negociar, para diminuir os
atenuantes. Ou levar o aumento de pena até a boca de fumo [a quem tem
vínculo regular com o tráfico]. E a pessoa que não está associada com
nada mantém os cinco anos.
No texto, o sr. atribui tarefas a Estados e municípios, algo visto como inconstitucional.
É relativo, há ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que
consideram constitucional e outros, não. Fica um jogo de empurra
infinito.
Hoje, a maioria dos Estados não faz nada e fica esperando o governo
federal resolver, e ele não resolve. Fica um bando de filósofos dos
ministérios filosofando e os meninos morrendo.
Uma polêmica do projeto é o fato de ele prever a internação do usuários em comunidades terapêuticas. Ela é voluntária?
Voluntária, não pode colocar uma pessoa à força nessas comunidades. A
única internação involuntária é a de quem está em crise aguda, não
consegue fazer mais nada e fica [no hospital] para se desintoxicar.
Mas tem que ter um começo, o problema é que a gente não tinha começo. A
imensa maioria dos meninos viciados em crack não quer se tratar
voluntariamente. E a lei atual diz que tem que ser voluntário. Ou então,
tem que ser por decisão do juiz se for um problema social grave.
Tiramos o termo "compulsória". E deixamos as formas de internação
voluntária e involuntária, a pedido da família ou por decisão do médico.
Esse ponto tem consenso?
Acho que sim. A ministra Gleisi [Hoffmann, Casa Civil] foi muito
positiva. O segundo escalão do Ministério da Saúde e uma boa parte do
Ministério da Justiça tem essa visão de que o cara tem o direito de se
drogar.
Mas na primeira reunião, a ministra Gleisi disse que era contrária à
descriminalização, a favor da internação involuntária e das comunidades
terapêuticas.
Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário