Testemunha é de Itaguaí e afirma que foi até a Congonha recuperar sua moto roubada
Rio - Uma testemunha que prestou depoimento quinta-feira na 29ª DP
(Madureira) contou que viu um adolescente abrir a fechadura da caçamba
da viatura que “socorreu” a auxiliar de serviços gerais Cláudia da Silva
Ferreira, de 38 anos. Vítima de um tiro que atravessou seu coração
durante suposto confronto entre PMs e traficantes, no Morro da Congonha,
em Madureira, a mulher caiu da caçamba do carro e foi arrastada por 350
metros.
Em depoimento ao qual O DIA teve
acesso, essa testemunha, um homem que mora em Itaguaí, disse que foi à
comunidade sozinho no último domingo para resgatar sua moto, que fora
roubada. Ele falou que chegou pouco antes do tiroteio e ficou em uma
padaria. Em seguida, ele teria visto moradores seguindo a viatura que
entrou na comunidade e, apesar do clima tenso e não ser morador, foi ver
o que acontecia.
A testemunha afirma que viu a viatura passar com a caçamba
fechada e que um grupo de menores seguiu o carro a pé, de bicicleta e de
moto. Um rapaz negro, que, segundo o motoqueiro, seria menor, teria
mexido na fechadura quando a viatura parou para pegar a rua principal de
saída da favela.
O homem relatou ainda que, depois disso, viu a
tampa da mala abrir e fechar quando o carro se movimentou, mas que o
motorista não viu. A testemunha não sabia que lá dentro havia uma
pessoa. Ele alega não ter nenhuma ligação ou conhecer os policiais.
Investigados por suspeita de terem feito os
disparos, o tenente Rodrigo Medeiros Boaventura e o sargento Zaqueu de
Jesus Pereira Bueno negaram em depoimento terem visto as vítimas durante
o confronto. Além de Cláudia, também morreu o adolescente Willian
Possidônio, 16, e foi baleado Ronald Felipe dos Santos. Este é apontado
pelos PMs como um dos que participaram do confronto.
Parentes de Cláudia prestaram depoimento ontem.
O advogado João Tancredo pedirá a inclusão deles no Programa de
Proteção a Testemunhas.
Vítima parecia desmaiada
O cabo Gustavo Meirelles, que ajudou o
subtenente Adir Serrano Machado a colocar a vítima na caçamba, declarou
que ela aparentava estar “desmaiada” no momento do socorro. Segundo o
laudo de necrópsia, ela morreu devido ao tiro.
O delegado Carlos Henrique Machado disse que os
laudos devem sair terça-feira. Ele quer saber se a morte foi
instantânea e o tipo de munição que a atingiu. “A única certeza é de que
a moradora foi vítima da guerra que nós vivemos do tráfico contra a
polícia”, disse o delegado, que vai fazer reconstituição do caso.
Alexandre criticou a soltura dos três PMs que
arrastaram sua mulher. “É lamentável. Quem comete crime consegue habeas
corpus. A soltura dos PMs dobra nosso medo. Se eu desse uma paulada em
alguém, seria preso. Não há justiça para policiais”.
Reportagem de Adriana Cruz, Roberta Trindade e Vânia Cunha
Transformando Sonhos em Realidade
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