Ipatinga –
A força-tarefa que apura a atuação de um suposto grupo de extermínio
integrado por policiais em cidades do Vale do Aço retoma suas ações
nesta semana com o desafio de cumprir mais mandados de prisão e
esclarecer pelo menos 23 homicídios ocorridos na região. Os primeiros
presos, o médico-legista José Rafael Miranda Americano e o investigador
José Cassiano Ferreira Guarda – detidos na sexta-feira em Ipatinga sob
suspeita de envolvimento no grupo criminoso que também teria assassinado
dois jornalistas da cidade –, são investigados pela execução de quatro
adolescentes, em 2011.
Conhecido como Chacina de Revés do Belém,
numa referência ao distrito em que foram encontrados os corpos de
Nilson Nascimento Campos, de 17 anos, Eduardo Dias Gomes, de 16, John
Enison da Silva e Felipe Andrade, de 15, o crime foi denunciado pelo
jornalista Rodrigo Neto, repórter assassinado em 8 de março. Ele
relacionou diretamente as execuções à ação de um esquadrão da morte
formado por policiais.
A informação de que um cabo do 14º
Batalhão da Polícia Militar teria sido preso anteontem não foi
confirmada pela Polícia Civil. De acordo com a Comissão
de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, há pelo menos 20
policiais envolvidos em mais de 20 homicídios denunciados pelo repórter
do Jornal Vale do Aço Rodrigo Neto e por seu colega, o fotógrafo
Walgney Carvalho, de 43, assassinado na noite do dia 14. Há suspeitas de
que os dois crimes estejam ligados e de que o fotógrafo teria sido
morto por saber quem poderia ter assassinado o colega.
De acordo
com relatório da comissão, a Chacina de Revés do Belém ocorreu em 25 de
outubro de 2011. O grupo de adolescentes perambulava pelo Centro de
Ipatinga e era conhecido por vender pequenas quantidades de drogas,
sobretudo pedras de crack. No dia 24 foram levados à delegacia por
policiais militares, que os abordaram e encontraram com eles uma bucha
de maconha, cinco pedras de crack, R$ 30 e um telefone celular. Os
quatro foram ouvidos pelo delegado, mas, ao saírem do distrito, teriam
atirado pedras em viaturas da Polícia Civil. Por esse motivo teriam sido
mortos, como suspeitaram os delegados da época e mostraram reportagens
de Rodrigo Neto.
Os corpos dos adolescentes foram encontrados em
um matagal nus, com as mãos amarradas para trás das costas e com tiros
nas nucas, em 30 de outubro de 2011. “Foi uma judiação o que fizeram com
os meninos, a situação dos corpos deles, quando a gente foi
identificar. Maldade que não se faz com ninguém. Nunca vou esquecer”,
disse à equipe do Estado de Minas a arrumadeira Maria Aparecida Gomes,
de 37 anos, mãe de Eduardo Dias Gomes, uma das vítimas.
A prisão
dos dois policiais representou certo alívio para a família do
adolescente executado. “A gente achava que não ia dar em nada (as
investigações sobre a chacina). Principalmente porque diziam que tinha
policiais envolvidos. Agora, quem sabe as coisas realmente possam ser
resolvidas e os culpados pagarem?”, disse o pai do mesmo jovem, o
medidor de marmoraria Silvanei Custódio Campos, de 46.
Fonte: Portal UAI
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