Um inquérito da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) resultou ontem em três prisões e na descoberta de um aparato tecnológico a serviço da quadrilha chefiada por Marcelo Santos das Dores, o Menor P, no Complexo da Maré. A investigação, que começou em 2009, revelou que os bandidos da favela compraram radiotransmissores criptografados por até R$ 5 mil, em São Paulo, para se comunicarem sem serem alcançados pela comunicação da polícia.
Ontem, os responsáveis pela venda de comunicadores foram presos no Rio e em São Paulo. Agentes da 10ª DP (Botafogo) prenderam Danilo Avelino de Oliveira e Leonardo Alves Stroligo, que faziam a instalação da tecnologia. Em uma operação conjunta, a Polícia Civil de São Paulo prendeu no bairro Santa Efigênia Helton de Arruda Pereira, responsável por vender os aparelhos.
Os bandidos foram flagrados em escutas autorizadas pela Justiça, quando tentavam, há 15 dias, vender comunicadores e softwares de comunicação instantânea para traficantes das favelas Santa Marta, em Botafogo, e Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, ambas com Unidades de Polícia Pacificadora. Como a facção que atua nesses locais é rival à de Menor P, o trio usava um intermediário, já identificado.
As investigações revelam que Danilo, técnico em informática, era o responsável por instalar os softwares nos computadores dos traficantes na Maré. Ele foi preso na casa de seu pai, na Taquara. Já Leonardo, motorista de táxi, foi encontrado numa loja de autopeças em Madureira, e fazia o transporte de Danilo pela favela, levando-o periodicamente a São Paulo para comprar os comunicadores, no mesmo endereço em que Helton foi encontrado.
A equipe da 10ª DP responsável pela prisão trabalhava na Coordenadoria de Informações e Inteligência Policiais (Cinpol) e participou da investigação na época em que o inquérito foi aberto.
— Quando soube que bandidos queriam vender tecnologia para favelas da Zona Sul, identificamos que eram os mesmos que agiam na Maré — explicou a titular da 10ª DP, Andrea Menezes.
Os três presos vão responder por associação para o tráfico. Ao todo, mais 15 pessoas, incluindo Menor P e Márcio José Sabino, o Matemático, morto em maio de 2012, são réus nesse processo. Ainda há dez foragidos.
Conquista de território
A facção de Menor P fez uso dos radiocomunicadores criptografados para conquistar território. No dia 31 de maio de 2009, antes de a quadrilha tomar a Vila do Pinheiro, também na Maré, do grupo rival, o traficante fez uma ligação para Danilo às 5h30. No diálogo, interceptado pela polícia, o chefe do tráfico pede ao técnico em informática que unificasse a frequência dos integrantes de sua quadrilha e a tornasse inacessível para quem quisesse espionar .
Além de intermediar a compra e venda de radiocomunicadores de última geração, Danilo também oferecia o serviço de instalação de softwares de comunicação instantânea, como Messenger, ICQ e WhatsApp e, nas suas frequentes visitas à Maré, dava aulas aos traficantes de como usar as ferramentas.
O inquérito que investiga Menor P por sequestrar e agredir o jogador Bernardo, do Vasco, em abril, ainda está em andamento na 21ª DP (Bonsucesso). O meio-campo foi levado, junto com Dayana Rodrigues, namorada do traficante, da favela Salsa e Merengue para a Vila dos Pinheiros, com a intenção de matá-los. Menor P tinha a suspeita de que os dois viviam um romance. O crime só não foi consumado porque Charles, jogador do Palmeiras, teria convencido Menor P de que a morte do jogador mobilizaria a polícia. A polícia solicitou à Justiça a prisão preventiva deles por lesão corporal grave, sequestro e tortura.
O traficante tem quatro mandados de prisão em aberto por crimes como homicídio, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. Ele também é investigado por pelo menos cinco desaparecimentos em sua área de domínio somente do ano passado para cá. Entre os desaparecidos estão um traficante conhecido como R10, que até então era braço-direito de Menor P.
Fonte: Jornal Extra
Nenhum comentário:
Postar um comentário