Vitória é vista com reservas por causa do baixo valor ofertado – licitação não permite gasto extra
Os primeiros passos para a realização das obras de duplicação da BR–381 foram dados ontem, em Brasília, com a abertura dos envelopes para licitação de cinco dos 11 lotes da rodovia. O consórcio formado por uma empresa espanhola, a Isolux Córsan, e uma brasileira, a Engevix, foi o vencedor dos três primeiros lotes, no trecho entre Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, e Jaguaraçu, no Vale do Aço. Empresários e representantes de entidades de classe do setor, no entanto, alertam que o preço oferecido pelo consórcio, bem abaixo dos praticados no mercado, podem ser um risco.
A principal preocupação é que os R$ 746,1 milhões oferecidos pelo consórcio são o valor global do serviço – o modelo de licitação usado, o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), não prevê gastos extras. Assim, há a preocupação que intervenções importantes deixem de ser feitas para que o orçamento não extrapole.
Segundo o diretor de uma construtora, que pediu para não ser identificado, o preço oferecido pela espanhola é impraticável, principalmente porque o projeto executivo terá que sofrer ajustes. “Empresas brasileiras não conseguiram oferecer nada abaixo de R$ 500 milhões para um trecho que eles ofereceram R$ 210 milhões, por exemplo. Existe um grande risco de eles começarem a obra e não terminarem com esse valor”, destacou. Segundo ele, o projeto tem incoerências grosseiras e falta de clareza quanto à existência de intervenções, como a de um viaduto. “Com isso, a obra ficará mais cara do que o previsto no projeto, e o empreiteiro só poderá gastar o que ofereceu. Ou ele abandona ou paga o prejuízo”.
O engenheiro José Aparecido Ribeiro, presidente do Movimento SOS Rodovias, teme os riscos. “A construtora não avaliou corretamente os custos. Não dá para arriscar desse jeito quando se trata de uma rodovia que mata tanta gente”, afirmou.
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas (Siscepot), Alberto Salum, a empresa não conhece os riscos do edital. “Existem outros casos que mostram que essas empresas, quando veem que estão perdendo dinheiro, vão embora”. Caso a empresa não dê continuidade à obra, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não paga o restante do valor e ela deve pagar 25% do valor do lote.
Processo. Para confirmar a escolha das empresas, a documentação apresentada ainda precisa ser validada, o que deve acontecer daqui a dois dias, prazo que o Dnit tem para verificar se elas têm estrutura para realizar os serviços. Presente em mais de 30 países, a Isolux Córsan atua, dentre outros setores, na construção de ferrovias, portos e edificações residenciais. No Brasil, o consórcio arrematou a concessão para administrar as rodovias BR–324 e BR–116, na Bahia.
Fonte: Jornal O Tempo
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