Por 50 anos, a cidade mineira se beneficiou da generosidade da siderúrgica Usiminas, dona de aeroporto, escolas, hospitais. Mas a empresa vive seu pior momento. E Ipatinga sofre junto
Ipatinga, em Minas: até os bairros foram desenhados de acordo com a
hierarquia da Usiminas — há, por exemplo, o bairro da presidência e o
bairro dos operários.
Aleirton Soares Dias, dono da agência de viagens Fox Turismo, localizada
no centro de Ipatinga, em Minas Gerais, virou símbolo de um momento
difícil para a cidade do Vale do Aço. Do início de 2012 para cá, seu
faturamento com a venda de pacotes turísticos caiu cerca de 50%.
Enquanto os brasileiros viajam e gastam lá fora como nunca, os
ipatinguenses adiam as férias a seus destinos favoritos, como Miami e
Nova York. Os moradores também cortaram os gastos com táxi, o que
derrubou o faturamento mensal de alguns motoristas de 5 000 para 2 000
reais no último ano.
Nas lojas das operadoras de telefonia e nas redes de fast-food, as
filas desapareceram das portas. No comércio, as vendas vinham crescendo
9% até 2011 e estagnaram em 2012. “A cidade está em crise”, diz a prefeita de Ipatinga, Cecília Ferramenta. A explicação não está no pibinho nem na inflação crescente.
Os ipatinguenses sofrem os efeitos do pior momento da história da Usiminas,
siderúrgica que responde por mais da metade da arrecadação do IPTU da
cidade. Em 2012, a arrecadação do imposto sobre serviços, principal
tributo municipal, caiu 28%.
Sem a Usiminas, Ipatinga provavelmente não existiria. A companhia
nasceu em 1956, quando o governo brasileiro decidiu que a região, na
época um distrito de Coronel Feliciano, reunia condições ideais para
receber uma siderúrgica.
Com investimento pesado da Usiminas, primeira grande estatal a ser
privatizada no país, em 1991, Ipatinga virou uma das cidades mais
importantes do estado.
Foi a siderúrgica que construiu o aeroporto, os clubes recreativos, o
zoológico, uma operadora de saúde, os colégios e os hospitais. Até os
bairros foram desenhados de acordo com a hierarquia da empresa — há o da
presidência, com seus casarões, e o bairro onde mora a turma do chão de
fábrica.
Enquanto ia tudo bem com a Usiminas, a simbiose foi um baita negócio
para a cidade. Mas, nos últimos anos, a coisa se inverteu. Com a demanda
por aço em queda e os custos de produção em alta, em 2012 a empresa
teve prejuízo recorde. Demitiu 5 000 dos 30 000 funcionários em todo o
país. E a marretada nos custos não vai acabar tão cedo.
Nessas horas, é natural que os atingidos busquem culpados. No caso da
Usiminas, não foi difícil encontrar: a empresa é presidida há quase um
ano e meio pelo argentino Julián Eguren, presidente da Usiminas desde
janeiro de 2012 e responsável pelos cortes. Ele virou uma espécie de
inimigo público em Ipatinga, assunto de exasperadas conversas de
botequim.
Fonte: Revista Exame
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